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terça-feira, 19 de maio de 2020

Lama

Confesso que gostaria de ter mais amor em meu coração, mais empatia, mais sensibilidade...

Eu me fundi a esse mundo, querida. Eu não sou como árvore e suas raízes fincadas com um crescimento linear, eu não faço parte desse ecossistema, que domina tão bem a arte de parecer

Não é? Parecer mais amigável, amável, empático e sensível.

Eu não cobiço essa atuação, feita tão cautelosamente, porque sinceramente eu não me importo com as virgulas que incluem nas minhas palavras tortas.

Elas são rabiscos, feitos como os de uma criança, sem pretensões exageradas, apenas é o que é, porque no fim das contas, mulher. Essa máscara que seguram tão forte, e essas roupas, escrotas, tão comportadas e puritanas, elas caem, envelhecem e se repudiam na sua própria hipocrisia.

Não leva a mal, eu prefiro ser esse ser humano despido, não lapidado, escultura robusta e as vezes arte abstrata

Suas juras, tuas palavras que foram meticulosamente pensadas para me ferir, eu lamento, eu juro que lamento, mas meu bem. Elas não sangram em mim, não há espaço em meu corpo para mais cicatrizes, e olha, cada uma delas, por mais caótica que tenha sido, eu sinto o maior prazer em carregar.

Minha menina, perca seu tempo com a brisa do vento, com o mar, com o sol, observando as estrelas, com paixões, com fodas, seja com o que for, mas por deus, não perca seu tempo pensando em como poderia ter sido e muito menos em mim.


Micróbios

Eu quero e de tanto querer, eu já não sei se quero

E não é por ti, mulher. Que devora minha carne crua.

 É por mim, que te assiste me mastigar tão lentamente e é belo, devo admitir

Sirva-te em abundância desse corpo exposto, marcado, que você contempla e se encontra com tanta maestria

Veja bem, eu não me importo com sua conveniência, com seus caprichos, com seus desejos, nem que me queira a meia noite, ou ao pé da cama, da letra, do verso escrachado, e até escondido.

Eu sou o amor, o prazer diluído, o mar que você não se afoga, a maré que te traz de volta, é sempre meia volta e volta e meia você retorna.

 Eu não me importo com o seu prazer sujo, com suas juras ou a que horas você abrirá a porta. Eu não quero esse seu penar. Eu não quero suas justificativas, teu querer inibido.

Não quero, por Deus, mulher.

Porque sinceramente eu só me importo com o que está submerso em ti, esse seu lado, sacana, imoral, que você acha que esconde tão bem.

Meu bem, não me leve a mal, eu não quero muito, eu não quero suas omissões, suas dúvidas, ou a busca de um verso bonito para enfeitar domingos

Eu te quero nua e sem vestígios de culpa, quero sua sacanagem com meu nome.

Porque no final, querida. Eu devoro sua carne doce e crua, tão quanto você devora a minha.

 Não vê? Somos a escória, nos sustentamos e você está empregada em mim tão quanto eu estou em você.

Micróbios famintos, eu e tu, é lindo


domingo, 26 de abril de 2020

Distopia


Ouvi com atenção, o que você me dizia com tanta paixão; meu amor, é uma questão de tempo
É sempre uma questão de tempo, você dizia
Enquanto tu me dizias isso, mulher. Eu olhava para o relógio, para os pássaros que voavam para longe do ninho, cruzando o leste, encontrando a liberdade
Meus olhos te atravessavam, e eu... Eu me perguntava; por Deus, quanto tempo mais?
Quanto tempo para te deixar?
Ou para rolarmos na cama?
Quanto tempo para te jurar amor?
E em quanto tempo, vamos nos ferir, sangrar, e nos deixar?
Quanto tempo, até que tu possas ver minha carcaça? Simplória e imoral
Quanto tempo até o desencontro de nossos prazeres?
Quanto tempo até seu riso sair mastigado de magoas?
É tempo de outono, e logo estaremos no inverno, eu volto no verão?
Eu conto tempo, ampulheta mergulhada e perdida no espaço-tempo
E eu penso nisso, nisso tudo enquanto você me olha com esses olhos de amor e me diz novamente; tudo em seu tempo....
 Meu bem, meu tempo é agora, estamos fadados ao não sucesso, e por isso te deixo, te deixo não por não amor, mas porque meu amor é maior que o tempo, e os contratempos que nos arruinara.
Deixe-me com essa lembrança boa tua
Deixe-me com nesse tempo bom, aonde me esqueço nos seus braços e você afaga meus cabelos
Deixe-me com esse tempo, que você me beija, tênue
Deixe-me com esse tempo, que eu te abraço, e você se entrega ao nosso prazer
Deixe-me com essa lembrança do teu corpo marcado pelo sol, marcado por meus lábios
Deixe-me com lembrança boa, aonde seus devaneios se funde a minha loucura
Deixe-me com essa lembrança boa, aonde eu te recito Garcia Lorca, enquanto fumo meu último cigarro
Deixe-me com essa lembrança boa, do teu grito abafado em meu ouvido
Deixe-me com essa lembrança boa, de todas as vezes que beijei seu sorriso
Deixe-me com esse tempo, que te olho e você jura; teremos mais tempo...
Amo-te nesse tempo e amarei tua lembrança. Ha uma marca no mundo, do teu riso e meu contento, e de mim, que no meio da minha sujeira te amei tão puramente.
Deixe-me...



(A) palavra que está na ponta da sua língua


É vasto, perpétuo
É assíduo, doce
É névoa, tempestade
É perdão, compreensão
É encontro a dois, a trois
Cascavel no deserto
Loucura cega
Eu quero ser o D do alfabeto que te domina. Devoção a você, neste momento.
Aquela que você deduz
A carona que você espera numa sexta à noite.
A palavra, o complemento da sua libido
Do seu prazer omitido
Da sua vontade descompassada e do seu olhar desinibido
Do que repousa na sua cama, despida
Aquela palavra maldita e mal dita. Que você não quer pensar, mas que eu sei, querida. Você quer me ouvir dizer.
A mulher que você quer. A mulher que te devora, a mulher que te faz ficar de joelhos. A mulher!
Eu? Ela? Você? Nós? Quem?
Surpresa!
Há um mundo que te submerge, meu bem, e ele te traz direto para minha cama.
Eu sou a santa, inteiramente puritana, moça do lar, mulher prendada, que você apresenta aos pais num domingo
Sou a maldita que está entre suas pernas, no final do dia, no meio da cozinha.
Jantar a mesa, prato La Carte
Você é a sobremesa! Gourmet, feito à mão, esculpida por meus dedos.
Sou a desalmada que você amaldiçoou no final da noite
É um limbo de duas pontas, (m)as que n(o) final você se lembrará pelo (r)esto da vida.


segunda-feira, 6 de abril de 2020

Ao tempo, pelo tempo



Degenerados, filhos sem pátria
O tempo te submerge, meu bem
Ele te impõe, te apresenta, destrói, corrói e reconstrói, numa tela, preto e branco.
No deserto de Dali
Nós girassóis de Van Gogh
Nos fragmentos de Frida
Há muito para ver.
E veja como eu vejo
Veja como tu via há três anos atrás. Há cinco, há quinze anos
Paredes de cimento, olhos castigados
Cinza, neutro
Cores se desbotam
A utopia dos grandes reinos
Castelos inteiros ao chão
A máscara cai, lentamente um rosto se revela
Frigido, cansado, envelhecido
Marcas do tempo, do relógio que não para
Quantas paisagens se perderam?
Quantos rabiscos não fazem mais sentido?
Quantas juras de amor eterno?
Quantas fodas?
Quantos corpos?
Quantos planos?
Quantos sentimentos?
Quantos lugares?
Quantos? Quando?
Para onde? Aonde estão?
Engavetados
Empoeirados
Perdidos
Sujos
Obscenos!
Segredos contados ao travesseiro
A noite te vê, nua. 
fratura exposta!
C'est la vie, mon amour 
E nela e por ela, nômades.
Não há lar.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Você pode chamar do que quiser

Garota, você incendiou meu coração. Eu te escrevo essas palavras meio desconexas ou sem qualquer vaidade de parecerem bonitas, apesar de saber que se existir uma mera semelhança com seu sorriso, será a coisa mais linda já escrita por alguém . Eu te vejo em uma forma simétrica de caos. O meu caos, e se pudesse te implodiria dia após dia. 
Há um milhão de coisas sobre você e sobre mim, que nunca serão ditas. Nosso silêncio é barulhento. 
E eu te observo mastigar as palavras que você nunca terá coragem de me dizer. 
Eu estou submersa nos teus olhos, profundos e intimista, que me levam para um tão tão distante, a um mundo paralelo, aonde querida, não existe ninguém além de você e eu, não existe um milímetro sequer entre teus lábios e o meus. Aonde você se esquece no meu abraço, e eu visito nosso lar, esse meio desajeitado, esse que chamamos de meio amor, meio desejo, que contra tudo que acredito, esta por fim; subentendido. E eu sei que nesse instante, eu só gostaria de ter minhas mãos em seu rosto, e te mostrar um universo inteiro, feito só para nós. 
Não há nomes, nem estigmas, você pode chamar do que quiser, porque tudo que temos é o silêncio da noite, e os segundos antes de dormir, eu sei, você pensa em mim... 

terça-feira, 28 de maio de 2019

Um evento catastrófico.


Eu sou a serpente que intrigou Eva.
Eu sou os vulcões em erupção no centro da terra.
Eu sou a metamorfose diluída.
Eu sou o caos em sua forma mais bela e intima.
Olhe para mim, meu bem... Veja como eu machuco, veja como eu amo... Como eu vou embora.
Eu sou a porra da rainha de copas no seu baralho, veja como eu ganho com maestria no seu jogo. Porque no final das contas a vida é só mais um jogo fodido.
Querida, veja como você é engolida por mim, como uma boa pressa se rende a morte.
Eu sou a que te mastiga lentamente.
Eu sou as palavras que te dá prazer numa sexta solitária.
Eu sou as mãos que explora teu corpo trêmulo
Eu sou a vertigem das coisas que não podem ser alcançadas
Eu sou o pior erro
Eu sou a adrenalina que percorre corpos.
Eu sou o alfabeto inteiro, na ponta da sua língua, que só sabe pedir por mais. 
Eu sou a obscuridade num conto do Allan Poe
Eu sou os contos eróticos de Anaïs Nin 
Eu sou o olhar do que seduz
Eu sou a trivialidade das coisas inoportunas
Eu sou uma mulher com muitos pretéritos, mas dentro deles, eu me reinvento!

‘’Sou como rua, beco podre da cidade
Eu sou os filhos mal paridos da nação
Sou a coragem até no grito dum covarde
O que não basta, não se entende, eu sou um furacão’’

Não me interessa amor pelas beiradas. 


domingo, 26 de maio de 2019

É sobre aquilo que ninguém quer falar.

Eu sou só mais uma poeta, meu bem. Sentada na estrada da vida com o coração partido
Eu sou uma alma desgarrada, nos braços da noite, fechando mais um boteco
Eu sou o embrulho de um presente que esqueceram de entregar ao dono
Eu sou a última folha do Outono
Eu sou o verso perdido de uma canção que não terminaram
Eu sou um blues arrastado, rouco e cansado
Eu sou a última passageira de um trem vazio
Eu sou a alucinação nos corpos loucos, a deterioração da mente humana
Eu sou a condenada, que viveu no purgatório durante anos,
Eu sou o tempo que te prendeu
Eu sou o tempo que eu perdi
Eu sou o tempo que amei
Eu sou o tempo que cuidei
Eu sou o tempo que transei
Eu sou o tempo que dediquei
Eu sou o tempo que lutei

Eu sou tempo, o tempo e cansei.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Vela, Cinzas ou Esquecida?

Somos velas acesas num canteiro, iluminando um quarto inteiro, dançando em meio aos ventos que tentam nos derrubar. 
E quando a janela se abre e o vendaval chega, apagamos, e a nossa essência se perde junto a fumaça que sobressai pelos cantos de um quarto que volta a ser escuro. Esperando que algo ou alguém nos acenda novamente. 
Já não acendemos tão fácil, e quando acesas, queimamos mais rápido, e cada vez que apagamos, acendemos mais fracas, arrastadas, já não dançamos com a leveza de uma brisa e não iluminamos tão bem.  

E o ciclo se repete até nos tornarmos algo estagnado, que já não acende e nem queima, que não ilumina e não dança. Nos tornamos só uma lembrança do que um dia iluminou e esquentou corações, que suportou e por fim cedeu e entendeu que cinzas são só cinzas e elas não renascem tão fácil.  

E depois de um tempo empoeirada num canto, entendemos que não precisamos de cinzas, não precisamos iluminar e dançar sempre, não precisamos rotular. Podemos tomar a forma que for e o que era nada, hoje é tudo, é livre.  
E me perguntam, quem é tu? Vela? Cinzas ou Esquecida?  

Eu sou a mulher que despi o mundo 
Eu sou a mulher que ama outra mulher 
Eu sou a minha mulher, eu sou sua, quando eu quiser e na hora que eu quiser 
Eu sou a mulher que dança nua 
Eu sou a mulher que  acorda as seis e ganha seu próprio dinheiro 
Eu sou a mulher que volta pra casa às quatro horas da manhã, de porre  
Eu sou a mulher que escreve poesia suja 
Eu sou a mulher que ama, crua 
Eu sou a mulher que machuca e cura 
Eu sou a mulher que erra, aprende e evolui 
Meu bem, eu sou tão minha que já não sei ser só vela. 
Sou incêndio.  
Sou minha e não de quem quiser, e se você quiser entrar, eu te ilumino ou te incendeio, porque não há espaço para mim no igual, só sei amar no infinito.  

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Rua Augusta

Desce a Augusta, corpo desperto, olhos atentos, a sobriedade observa as memórias que se confundem com cacos.
Desce a Augusta, as mãos ocupadas, carregam venenos de esquecimento e fumaças dançam pelas ruas.
Mãos que também seguram outros amores. Que encontram outras fodas e promiscuidade tola.
Desce a Augusta, agora, não mais tão sóbria.
Coração cheio, mente se esvazia.
Desce a Augusta, sorri, e pensa; A noite começou, é minha.
Desce a Augusta, encontra velhos amigos, velhos hábitos, mal hábitos.
Canalha! - Uma moça fala.
É só mais um codinome, todos temos nossos pecados e o meu é a luxúria.
Desce a Augusta, compra mais cerveja barata
Desce a Augusta, e para num boteco
Desce a Augusta, toma uma dose de whisky, coração se esvazia, luxúria transborda.
Numa mesa de bar, com uma desconhecida sentada ao meu lado, a música esta alta e toca Someday do Strokes, sorrio, penso nos velhos tempos e te escrevo...
-  Se tu não fosse esse poço, tão escuro, ou eu tão cega e não me perdesse de ti, tantas e tantas vezes, se eu não fosse, essa tola que tenta encontrar caminhos e sempre acaba batendo a cara na porta ou tento outro porre. E se tu, mulher, não fosse essa pedra no meu sapato, colocaríamos fogo na Babilônia, seríamos Mickey e Mallory, mas tu é covarde demais para me olhar nos olhos e admitir algo.

Sobe a Augusta, cansada, de porre, domingo. Coração quase vazio, meio cheio, e de ti, não me resta mais nada, são só lembranças.
Sobe a Augusta, tu não existe mais, eu não existo mais, somos uma notícia que se perdeu no que os outros chamam de passado e eu chamo de baú de estrelas ou vulgo esquecimento.

Os caminhos se encontram na rua dos esquecidos,dos corações partidos, dos bêbados, dos fodidos, dos namorados, dos amigos, dos mendigos.
É tu, Augusta, mãe das prostitutas!

E pra você é um.. Até logo, querida.